Os passageiros se assustaram com o grito. “Pára o ônibus, motorista. São meus irmãos, quero descer”, disse a doméstica Joana Rosa dos Santos, 28 anos. Às 8h de ontem, ela embarcou no coletivo, em São Sebastião, para ir trabalhar, no Lago Sul. Quinze minutos depois, no meio do caminho, viu a DF-463 interditada por cones. Era um acidente. Quatro ciclistas, que seguiam pelo acostamento da rodovia, foram atropelados por um carro que fugiu sem prestar socorro, segundo testemunhas. Três deles são irmãos de Joana. Um morreu, o outro está hospitalizado em estado gravíssimo e o terceiro recupera-se em casa.

O ônibus parou e a doméstica desembarcou, desesperada. Os irmãos Valdivino, 34 anos, Lenilson, 23, e Hélio Pereira dos Santos, 18, saíram de casa poucos minutos antes de Joana. Os três são pedreiros. Há dois meses, trabalhavam na construção de uma casa no condomínio Solar Brasília, cerca de 8km distante de São Sebastião. O vizinho e colega de trabalho Oséias Paulo da Silva, 28 anos, os acompanhava e também foi atingido. Joana viu Lenilson inconsciente, sendo atendido por bombeiros. Hélio estava caído, gritando pelo nome de Valdivino, que não estava no local. Ele havia sido levado para o Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF) de helicóptero, mas morreu logo após chegar no pronto-socorro. Lenilson foi transportado de ambulância. Sofreu uma forte lesão no tórax e, até às 18h de ontem, ainda não havia voltado a consciência.

O jovem respira com ajuda de aparelhos. Hélio fraturou várias costelas. E Oséias teve apenas escoriações. Os dois foram hospitalizados, mas receberam alta no final da tarde. Ao ser atingido pelo carro desconhecido, Valdivino teria saído do acostamento e entrado na pista. Acabou atingido em cheio pelo Fiat Uno dirigido pelo soldado do Exército Carlos André de Souza, 20 anos. O corpo do pedreiro quebrou o pára-brisa e ficou dentro do veículo. O motorista do Uno também sofreu escoriações. Testemunhas Logo após o acidente, o militar chegou a ser acusado de ter atropelado os pedreiros. No entanto, no final da manhã, duas testemunhas disseram que o acidente foi causado por um carro não identificado, que sequer parou. “O outro carro passou em alta velocidade. Tentou ultrapassar o Uno pelo acostamento e atingiu os ciclistas. Só que ele saiu da pista e passou pela terra. Subiu uma grande nuvem de poeira e não deu para anotar a placa. Como foi tudo muito rápido, não vi nem a marca do veículo.

Mas acho que o Uno não teve culpa”, afirmou o jardineiro Valdenir Silva Sousa, 32, que estava em um Pálio, pouco atrás do Uno. Outra testemunha, o caminhoneiro Lazáro Marques da Silva, 52 anos, confirmou a versão do jardineiro. “Eu estava um pouco mais distante. Mas, para mim, o carro desconhecido é quem causou o acidente”, afirmou. Coincidentemente, Lázaro e Valdenir moram na mesma quadra dos atropelados e são amigos deles. O motorista do Uno, André, ainda não prestou depoimento. De acordo com seu irmão, o garçom Carlos Eduardo de Souza, 24 anos, o militar afirmou ter sido fechado por outro carro. A 30ª Delegacia de Polícia (São Sebastião), investiga o caso.

O delegado plantonista João Kleiber disse que é necessário esperar o depoimento do soldado e das vítimas sobreviventes para esclarecer o acidente. Ele não descarta a possibilidade de o Uno ter atropelado os quatro homens. “Essa via é muito perigosa. Acidentes são freqüentes. Temos que saber exatamente como foi a dinâmica do atropelamento para apontar os culpados”, comentou o delegado. Valdivino trocou o interior da Bahia há 12 anos para viver no Distrito Federal. Vendeu tudo o que tinha e comprou um lote em São Sebastião. Ontem, sua mulher e seus quatro filhos pequenos estavam inconsoláveis. “Ele é o mais velho de todos. Era o exemplo da família. Um homem muito trabalhador”, lembrou Laurindo Pereira dos Santos, 33 anos, outro de seus irmãos. Lenilson e Hélio chegaram ao DF há três meses, também em busca de uma vida melhor.

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