O número de acidentes nas rodovias que cruzam Minas Gerais é assustador nesta época do ano. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal, secção Minas Gerais, do dia primeiro de janeiro até o último domingo foram registrados 999 ocorrências, com 730 feridos e 73 mortes. Somente no último final de semana, quando mais dez mineiros morreram no choque entre a van em que viajavam e uma carreta, foram contabilizados 130 acidentes com 20 mortes e 106 feridos nas estradas mineiras.

Entre as rodovias mais perigosas, pelo grande fluxo de cargas pesadas e de pessoas que buscam o litoral para passar férias é a BR-262, que liga Belo Horizonte a Vitória. Os motoristas devem redobrar a atenção. Para se ter uma idéia, somente no ano passado, no trecho que vai da divisa de Minas com o Espírito Santo foram registrados 684 acidentes, com 130 mortes e 497 feridos.

“Essa estatística é específica do trecho que liga a divisa de Minas com Espírito Santo até o quilômetro 15, no trevo que leva os mineiros até Guarapari”, ressaltou o inspetor Fabiano Moreira. Ele ressalta que a estrada é bastante perigosa, com curvas fechadas, sem espaço para ultrapassagem e com trânsito de veículos de carga pesada. Exatamente onde ocorreu a tragédia com os turistas mineiros que voltavam do litoral capixaba, no sábado _ BR-262, próximo ao município de Muniz Freire (ES).

Tragédia

No enterro das vítimas, ontem, o clima era de comoção, dor e indignação. Sete corpos foram sepultados no Cemitério Municipal de São Joaquim de Bicas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e três no município vizinho de Igarapé. Amigos e parentes das vítimas pediram punição aos responsáveis pela tragédia.

De acordo com o Departamento Estadual de Estradas de Rodagem (DER), a Elzico – empresa responsável pelo transporte dos passageiros – não tinha autorização para promover viagens interestaduais com a van envolvida no acidente, que se chocou com uma carreta na volta para casa.

Entre domingo e ontem, segundo a Polícia Militar, cerca de 8 mil pessoas compareceram ao velório coletivo das vítimas, no Ginásio Poliesportivo Pedro Maia, em Nossa Senhora da Paz, distrito de São Joaquim de Bicas, mais conhecido como Bairro Farofa. “Nunca vi tanto cadáver junto, parece cena de guerra.

Mas quem é que vai pagar por isso?”, questionou a dona de casa Maria de Fátima Cruz, 47 anos, que perdeu três parentes no acidente, entre eles Paulo César Ribeiro, de 21 anos, que havia viajado para o litoral pela primeira vez. “Pode até haver controvérsias quanto à responsabilidade, mas a Justiça deve ser feita, doa a quem doer”, desabafou o funcionário público Nerival da Silva, 28, também parente de vítimas.

Após o velório, seguiram para o Cemitério Municipal de Igarapé os corpos do lavrador Adalberto de Assis Ferreira, 42, e o de sua filha Luana Michelly, 12. No mesmo cemitério foi enterrado o corpo do motorista da van, Marcelo Souza da Silva, 30. No cemitério de São Joaquim, onde só foi permitida a entrada de parentes dos mortos, chamou a atenção a presença do ministro da Saúde, Saraiva Felipe, que tem uma fazenda na região.

Felipe, que adiou para hoje seu retorno a Brasília para acompanhar os sepultamentos, afirmou que também perdeu parentes e amigos no acidente, mas não disse quem eram. Ele atribuiu o crescente número de mortes no trânsito à má conservação das rodovias. “São 35 mil mortes ao ano no trânsito e o mau estado das rodovias é um dos principais fatores dessa verdadeira epidemia”, disse.

O lavrador Waldir Costa, 56, cujo filho Paulo César, de 20 anos, morreu no local do acidente, estava inconformado com a perda. “Ele juntou dinheiro o ano inteiro para fazer essa viagem e separou R$ 1.000 reais para aproveitar bastante. Estava ansioso para conhecer o mar. Agora não nos resta mais nada a fazer, senão lutar para que a Justiça seja feita”, disse.

Elzico admite irregularidade

A empresa Elzico, que atua no mercado de fretamento de vans e ônibus há cerca de sete anos, não poderia transportar passageiros para outro estado em veículo com capacidade inferior a 21 lugares, informou ontem a assessoria do Departamento Estadual de Estradas de Rodagem (DER). A empresária Elza Maria Queiróz Silva, dona da Elzico, admitiu que não tinha o documento exigido por lei e alegou não saber onde obtê-lo. Segundo ela, a seguradora Sulinas pagará à família de cada uma das vítimas R$ 10.300,00.

Ainda de acordo com a assessoria do DER, a Agência Nacional de Transportes Terrestre (ANTT) garante autorização para viagens interestaduais por fretamento somente para veículos com mais de 20 lugares. No caso da van envolvida no acidente da noite de sábado (que tem capacidade para 15 passageiros), a autorização concedida pelo DER cobriria o percurso São Joaquim de Bicas-Martins Soares, que fica a 11 km da divisa com o Espírito Santo. Para evitar nova tragédia, outro grupo de mineiros que seguiu de Brumadinho para Marataízes, também no litoral capixaba, em uma van da empresa, retornará em um ônibus. O DER informou que as autorizações em questão são feitas pela internet, com o uso de uma simples senha.

“Não temos permissão mesmo. Estava autorizada a ir até Martins Soares, a última cidade de Minas. Passando da fronteira, o caso não é mais responsabilidade do DER de Minas”, disse Elza Maria. “Não me considero irregular, porque tenho outros veículos acima de 21 lugares licenciados pela ANTT. Já tentei tirar licença para a van e não consegui, não tenho onde buscar. Entendo que o que não é proibido é permitido”, completou. Ela afirmou ainda não saber se continuará atuando no ramo.

DEIXE UMA RESPOSTA

Você digitou um endereço de e-mail incorreto!
Por favor, digite seu nome aqui