O número de óbitos por acidentes de moto registrado pelo Instituto Médico Legal (IML) cresceu mais de 500% nos últimos 16 anos. No IJF, estimativas apontam que a cada hora chega uma ocorrência relacionada a moto ou bicicleta, o correspondente a 4% de todos os atendimentos cirúrgicos

Uma epidemia avança sobre o Estado. O número de óbitos por acidente de moto no ano passado foi 500,5% maior que os mesmos registros do Instituto Médico Legal (IML) em 1990. As mortes passaram de 40 para 241 vítimas em 2005. Um índice superior ao crescimento do total de óbitos no trânsito, 95,2%, no comparativo do mesmo período. “O problema não pára por aí. Há ainda as pessoas mutiladas, aposentadas precocemente, os leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) ocupados e uma multidão lotando os corredores das emergências todos os anos por causa dos acidentes de moto. Um custo muito alto para a sociedade”, destaca o coordenador do levantamento, o médico Francisco Simão, ex-diretor do Instituto de Identificação do Estado.

O levantamento também aponta que 12.468 pessoas morreram em acidentes de trânsito nos últimos 16 anos. Isso significa duas pessoas por dia que perderam a vida em atropelamentos, colisões de carro, moto ou bicicleta. Para Simão, a maioria das ocorrências estão relacionadas a uma situação de imprudência, imperícia ou negligência ao volante e poderiam ser evitadas. Falta de habilitação, dirigir após ingerir álcool, ou não usar os equipamentos de segurança são exemplos disso. Ele estima que chega a 40% o número de motoqueiros mortos que não possuem permissão para dirigir, em todo o Estado. “Se todos fossem habilitados e andassem com capacete, os índices cairiam até 50%”, considera ele.

A situação é grave e faz parte do cotidiano do maior hospital de emergência do Estado, referência em trauma, o Instituto Doutor José Frota. Por hora, há um atendimento a vítima de acidente de moto ou bicicleta. Um paciente por dia fica hospitalizado na unidade por essas causas e, em média, são registrados dois óbitos precoces por mês. De acordo com o chefe do setor de emergência do IJF, Rommel Araújo, os acidentes de moto correspondem a 4% de todos os atendimentos cirúrgicos e clínicos realizados. “Superam os acidentes de trabalho, agressões, atropelamentos, queimaduras e Acidente Vascular Cerebral (AVC)”, ressalta.

Segundo Rommel, que também é presidente da Sociedade Cearense de Medicina de Urgência e Emergência (Socemu), a juventude é a principal atingida. Há um pico no número de entre os homens de 20 e 29 anos. O traumatismo craniano é o diagnóstico mais recorrente, seguido de fratura dos membros. Excesso de velocidade, uso de álcool e não utilização correta do capacete são fatores que aumentam as chances de óbitos e complicações no tratamento. “A velocidade influencia diretamente na gravidade da lesão”, observa ele.

Após o acidente, um longo processo se inicia. A reabilitação leva de seis meses a um ano, em média. Depois, muitos ainda precisam da reabilitação pós-hospitalar, aumentando os gastos para o sistema público de saúde. Ele cita que um curativo chega a R$ 200,00. Em um dia de UTI são gastos cerca de R$ 900,00. Além do uso e deslocamento de ambulância e dos custos com profissionais. “Se o motorista seguir corretamente as regras, conseguimos reduzir o número de acidentes com vítimas” acrescenta Rommel.

Simão considera que é preciso mais fiscalização para reduzir as infrações de trânsito e, consequentemente, os acidentes. Para ele, a legislação precisa ser revista para punir com mais rigor os autores de infrações. O médico defende a criação de uma escola de pilotagem de moto itinerante, para habilitação dos motociclistas do Interior. “É como um surto de qualquer doença, que precisa de medidas urgentes para ser contido”, destaca.

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