O rentável mercado do transporte clandestino não é cobiçado apenas pelos condutores de vans, peruas e carros de passeio em Minas Gerais. Os taxistas também fazem as vezes de perueiros e disputam passageiros com as empresas de ônibus em grandes rodovias do estado. Nas imediações da rodoviária de Belo Horizonte, os profissionais criaram espécies de empresas, que funcionam como miniterminais de embarque. O interesse nas viagens é tanto que, em algumas cidades, como Sete Lagoas, 31,4% da frota migrou para a capital e caiu na clandestinidade.

Pelo menos 55 táxis, que partem de um estacionamento na Rua Oiapoque, 22, a apenas um quarteirão da rodoviária, estão à disposição de quem quer seguir para a cidade da região Central do estado. O estabelecimento funciona 24 horas, com partidas a cada cinco minutos e passagem R$ 0,45 mais baixa que a do ônibus: R$ 8. Os passageiros contam com o conforto de uma sala de espera e um barzinho, onde podem comprar água a R$ 1, cerveja a R$ 1,70 e café a R$ 0,30.

A equipe do Estado de Minas embarcou numa dessas viagens. Para percorrer os 77 quilômetros entre a capital e Sete Lagoas, o taxista, que se identifica como Flávio, leva 50 minutos. Com os pneus carecas, acelera até 130 quilômetros por hora na BR-040. “Vou e volto três vezes por dia. A cada viagem, ganho R$ 64. Apesar dos fiscais, que ficam na ‘cola’, o serviço compensa”, diz.

Com 205,8 mil habitantes, Sete Lagoas tem 175 táxis. A frota supera a de cidades maiores, como Betim, Governador Valadares e Montes Claros. São 1.176 moradores para cada carro, sendo que a média é de 2 mil para cada veículo. O coordenador de Ações de Trânsito da prefeitura, Francisco de Oliveira Neto, explica que, com o excesso de veículos, falta mercado e os taxistas saem da cidade.

“As placas foram distribuídas sem muito critério pelos prefeitos, a partir da década de 1970. Uma lei municipal proíbe concessão de novas permissões desde 1989, mas não podemos cancelar as que já existem”, argumenta ele, dizendo que a falta de interesse dos taxistas pelo mercado local obriga a administração municipal a fechar alguns pontos de táxi. Em contrapartida, três quarteirões vizinhos à rodoviária viraram ponto de embarque de passageiros.

O presidente do Sindicato dos Condutores Autônomos de Sete Lagoas (Sindicon), Anastácio Tavares, reconhece que a prática é irregular, mas diz que não há outra solução. “Viajar para a capital é a única maneira de garantir o ganha-pão de todos”, alega. Mesmo assim, ele reclama que o lucro tem diminuído recentemente. É que os “carrapetas”, como são chamados na cidade os perueiros que usam carros particulares, entraram na disputa por passageiros. Já são 20 veículos, que tomam mais um pedaço dos quarteirões vizinhos à rodoviária.

Operação A Polícia Militar anunciou, terça-feira, um trabalho conjunto com a prefeitura, Corpo de Bombeiros, Departamento de Estradas de Rodagem (DER-MG) e Polícia Civil para coibir o transporte clandestino no entorno da rodoviária de BH. Policiais da 6ª Companhia do 1º Batalhão começaram a identificar os agenciadores que oferecem passagens e os estacionamentos que servem de ponto de partida para as viagens. Nos próximos dias, os órgãos devem fazer blitzes para multar os condutores dos veículos piratas.

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